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Desemprego, desalento e desocupação: entenda a diferença entre os termos

Entre março a maio de 2022, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua registrou a menor taxa de desemprego para o período desde 2015 (8,3%) e a menor taxa de subutilização desde 2016, ou seja, um recorde para a população ocupada. A taxa de desemprego no país ficou em 9,8% no trimestre encerrado em maio de 2022.

O número de pessoas ocupadas (97,5 milhões) foi recorde da série iniciada em 2012, com alta de 2,4% (mais 2,3 milhões) em relação o trimestre anterior e de 10,6% (mais 9,4 milhões) considerando o mesmo período de 2021.

Mas o que significa realmente estar desempregado no Brasil? E como que outros termos como ocupação e desalento se relacionam? Este artigo busca explicar a diferença entre os diferentes termos usados pela PNAD quanto às pessoas presentes no mercado de trabalho e como funciona a pesquisa para calcular a taxa de desemprego no país.

O que é desemprego?

Quando falamos em desemprego, não nos referimos simplesmente a pessoas que não possuem emprego, na verdade, existem outros quesitos para que uma pessoa seja considerada desempregada. Desemprego se refere às pessoas acima de 14 anos que não estejam trabalhando, mas estão disponíveis para o mercado e tentam conseguir um emprego. 

Por esses motivos, as pessoas a seguir não podem ser consideradas desempregadas:

  • Um universitário que dedica seu tempo somente aos estudos.
  • Uma dona de casa que não trabalha fora.
  • Uma empreendedora que possui seu próprio negócio.

Segundo a metodologia usada pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua, o estudante e a dona de casa são pessoas fora da força de trabalho; já a empreendedora é considerada ocupada.

As divisões do mercado de trabalho

 

Organograma sobre categorias do mercado de trabalho – Fonte: IBGE

  • Ocupados – População composta por empregados (do setor público ou privado, com ou sem carteira de trabalho assinada), trabalhadores por conta própria, empregadores, trabalhadores domésticos e trabalhadores familiares auxiliares (pessoas que ajudam no trabalho de seus familiares sem remuneração).
  • Desocupados – Também conhecidos como desempregados, são aqueles que não estão trabalhando, mas já se movimentaram para encontrar um emprego e estão disponíveis
  • Subocupados – Pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais (em um ou mais empregos). Para estar nessa categoria a pessoa precisa ter vontade e disponibilidade para trabalhar mais.
  • Força de trabalho potencial – Pessoas que não estão na força de trabalho, mas apresentam potencial para integrarem esta força.
  • Fora da força de trabalho potencial – Dentre as pessoas fora da força de trabalho, temos as donas de casa que não trabalham fora, adolescentes em idade escolar, aposentados e outras pessoas sem interesse ou condições de trabalhar.
  • Desalentos – Trata-se de uma pessoa que gostaria de ter um emprego, mas desistiu de procurar, seja por não achar um trabalho adequado, não ter experiência profissional, ser muito jovem/idoso ou por acreditar que não havia trabalho na localidade. Logo, essa pessoa está desanimada quanto às suas possibilidades e não se encontra na força de trabalho

A cara do desemprego e desalento

A partir das médias anuais de 2012 a 2021, obtidas pela PNAD Contínua, o Data Nubank identificou como mulher, jovem e negra, o perfil médio da pessoa desempregada no Brasil. Pensando nos desalentados, a maioria está entre os 14 e 23 anos (35,5%), é mulher (57,5%), parda (64%) e com fundamental incompleto (46%).

Esses dados indicam um cenário nada agradável, especialmente se você se encaixa nesse perfil e está ingressando no mercado de trabalho

Como se chega a taxa de desemprego

No Brasil, a taxa de desemprego é um dos indicadores oficiais da economia, ela é calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE por meio da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), que registra dados a respeito de ocupações no setor privado, público ou mesmo quem trabalha de forma independente.

A pesquisa nacional é considerada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como uma das ferramentas de monitoramento de mercado de trabalho mais alinhadas às suas recomendações. Outros países também usam os mesmos padrões de análise. EUA, França e México também trazem essas classificações que PNAD. A única diferença é a idade mínima de pessoas “aptas para trabalhar”. Os EUA consideram 16 anos, França e México utilizam 15 anos e o Brasil a partir dos 14 anos.

Vale destacar que considera somente os trabalhadores que efetivamente procuraram emprego nos últimos 30 dias anteriores à realização da pesquisa, para cálculo da taxa oficial.

Outro indicador para medir o nível de emprego no país é o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgado pelo Ministério da Economia. 

Mas o que difere a PNAD e o Caged?

Das bases de dados disponíveis destaca-se o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia (SEPRT/ME), e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de ambas retratarem o comportamento do mesmo mercado, elas apresentam diferentes naturezas metodológicas. 

A PNAD Contínua é mais ampla e apresenta dados relacionados ao emprego informal, o que a diferencia do Caged, que se refere apenas as admissões e dispensas de pessoas contratadas no regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), usado pelo Programa Seguro-Desemprego para análise de informações e pagamento de benefícios. Tal serviço é vinculado à Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia.

Ainda no caso da PNAD Contínua, temos o monitoramento de pessoas desocupadas no país, ou seja, aquelas que não têm emprego e estão a procura de uma ocupação. Outras formas de subutilização da força de trabalho também são investigadas, como subocupados por insuficiência de horas trabalhadas e os chamados desalentos.

 

PNAD Caged
fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Secretaria Especial de Previdência e trabalho do Ministério da Economia
periodicidade mensal, trimestral e anual mensal
tipologia pesquisa amostral contínua registro administrativo dos estabelecimentos com CNPJ
abrangência trabalhadores formais e informais, trabalhadores domésticos, empregadores, desempregados e pessoas fora da força de trabalho trabalhadores formais com carteira assinada
recorte geográfico Brasil; Unidades da Federação e regiões metropolitanas Brasil; Unidades da Federação; região, mesorregião; aglomerações e municípios
principais estatísticas Taxa de desocupação; taxas de participação da força de trabalho; nível de ocupação; pessoas ocupadas; massa salarial e  rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas. Quantidade de pessoas admitidas e desligadas; saldo líquido de empregados formais; massa salarial e rendimento médio nominal por trabalhador

 

Além das diferentes categorias de indicadores existentes, para avaliarmos o desemprego precisamos também considerar a sazonalidade que, conforme explica o IBGE, são “flutuações intra-anuais no número de empregados que se repete regularmente durante os anos”. Logo, temos épocas e fatores que  interferem no desemprego no país.

Um exemplo disso pode ser visto em trabalhos temporários no comércio e indústria, especialmente por conta de algumas datas como Páscoa ou Natal. Entretanto, em janeiro há queda na ocupação com o fechamento dessas vagas de fim de ano.